Parece cada vez mais claro para o mercado que a economia dos EUA não tem condições de sustentar uma confrontação tarifária massiva com a China, dada a forte interdependência entre as duas potências — uma dependência que, notavelmente, favorece os próprios Estados Unidos. Assim, acredita-se que as manobras do presidente Trump nesse contexto partem de uma posição de fraqueza nas negociações e de uma tentativa de intimidar a China para obter vantagens comerciais. As tarifas extremas anunciadas anteriormente dificilmente representam uma ameaça real — são vistas como meras táticas de pressão, algo que Pequim compreende perfeitamente e avalia com precisão.
É muito provável que os EUA acabem recuando e negociando com a China, o que resultaria em tarifas significativamente mais baixas — a menos que haja uma escalada da crise e se chegue a um conflito militar, cenário para o qual Washington, apesar da bravata e da retórica agressiva, não está preparado.
Nesse contexto, o primeiro fator que sustenta a demanda contínua por ações é a percepção da fraqueza geopolítica dos EUA. Os mercados apostam que a guerra comercial acabará em um acordo satisfatório para ambas as partes. O segundo fator é a alta probabilidade de que o Federal Reserve, apesar do discurso atual contrário a cortes de juros no curto prazo, seja forçado a agir diante da desaceleração do crescimento econômico e da queda da inflação. O terceiro fator é a esperança dos investidores de que a economia americana evite uma recessão prolongada e que o mercado de trabalho se mantenha, em linhas gerais, em um nível aceitável.
Com esse pano de fundo — e diante da recuperação contínua dos índices de ações, dos rendimentos dos títulos e do dólar americano — os mercados se aproximam da divulgação de dados-chave do mercado de trabalho nesta semana.
Os dados do JOLTS divulgados ontem, que mostraram uma dinâmica positiva na abertura de vagas em abril e uma revisão para cima dos números de março, foram animadores. Hoje, no entanto, todas as atenções se voltam para o relatório ADP sobre empregos no setor privado, que, segundo as projeções consensuais, deverá registrar a criação de 111 mil vagas em maio, frente às 62 mil em abril.
Se os números vierem em linha com as expectativas, o dólar poderá encontrar algum suporte no mercado Forex, e os índices de ações poderão finalmente romper os fortes níveis de resistência mantidos desde meados de maio. Caso o relatório oficial de empregos, a ser divulgado pelo Departamento do Trabalho na sexta-feira, também traga resultados positivos, essa tendência poderá se acelerar.